Por uma escola sem barreiras
Educação e inclusão foram tema de debate de mesa redonda do II Congresso Internacional de Educação Sesi-SP
Lúcia Rodrigues, comunicação Sesi-SP
“Educação e inclusão: por uma escola sem barreiras” foi o tema da primeira mesa redonda que reuniu, no II Congresso Internacional de Educação Sesi-SP, na terça-feira (17/9), Maria Mantoan, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Liliana Ramos, da Universidad Diego Portales(UDP), do Chile, com a mediação de Danieli Tavares.
Foto: Karim Kahn / Sesi
Mestre e doutora em Educação pela Unicamp, Maria Mantoan defende que a perspectiva inclusiva na aprendizagem conduz a uma abordagem mais ampla das dificuldades educativas dos alunos, centrada no desenvolvimento e aprendizado. Segundo ela, a perspectiva inclusiva pressupõe o direito de todos acessarem o mesmo currículo.
“Inclusão não é integração, não é mera inserção numa determinada comunidade, não tem a ver com deficiências. Inclusão tem a ver com ensinar sem diferenciação. Inclusão não veio para atrapalhar, veio para aprimorar o ensino”, afirma Mantoan.
Maria Mantoan, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
afirma que a inclusão veio para aprimorar o ensino.
Foto: Karim Kahn / Sesi
No entendimento dela, na maioria das escolas ainda vigoram normas que atrapalham o ensino inclusivo. Entre elas, habilidades e competências que devem ser alcançadas em tempos determinados; avaliações padronizadas; comparação do desempenho dos alunos a partir das notas; diferenciações de currículos e atividades adaptadas para alguns alunos; e valorização de um conhecimento sistematizado.
Ela define a educação inclusiva como um modelo de educação que integra todas as crianças sem nenhuma distinção, e que as escolas regulares que são inclusivas tenham uma organização no sistema educacional para que possam atender as necessidades apresentadas pelos alunos com deficiência.
“O projeto da maioria de nossas escolas é baseado no paradigma da aprendizagem, que seleciona alunos, privilegiando alguns e excluindo os demais”, disse. Nas escolas inclusivas, porém, a aprendizagem é uma recriação de cada aluno. “Não depende do que o professor ensina, mas das relações que o aluno estabelece com o que já conhece, com o que é relevante para ele, com questões que lhe são provocativas”, explicou.
A professora afirma ainda que a escola inclusiva rompe com a avaliação entendida como processo objetivo, controlado pelo professor por provas, e outros recursos.
“É uma atividade de ensino em que cada aluno tem espaço para mostrar o que entendeu, livre de tensões e julgamentos. Todo aluno tem o direito de se autoavaliar e de manifestar o que aprendeu, dizer o que gostaria de saber mais e expressar quais foram suas dificuldades”, acredita Mantoan.
“Somos professores inclusivos quando abandonamos o nosso modo padrão de ensinar e exercemos o nosso poder de ofício. Não comparamos a capacidade de aprendizagem dos alunos e não sujeitamos nossos alunos a provas com gabarito único”, finalizou.
Educação inclusiva no Chile
A educação inclusiva no Chile, como em outros países, vem sendo implementada em meio a várias temáticas, tais como gênero, migrações, diferenças de habilidades dos estudantes, condições socioeconômicas, grupos étnicos, a deficiência e outras condições humanas relacionadas à educação especial.
São 3,6 milhões alunos matriculados no sistema educacional (dados de 2023). Desse total, entre alunos com necessidades especiais de educação, 450 mil estão estudando em escolas regulares e 41 mil em escolas especiais.
“Sabemos que educação inclusiva não tem a ver com a deficiência, isso foi um erro histórico que aconteceu em muitos países”, disse Liliana Ramos, professora de Pós-Graduação em Integração de Crianças e Adolescentes no Ensino Regular e na Formação em Desenvolvimento Cognitivo da Universidade Diego Portales (UDP), de Santiago.
Liliana Ramos, da Universidad Diego Portales(UDP), do Chile,
afirma que educação inclusiva não tem a ver com a deficiência.
Foto: Karim Kahn / Sesi
Segundo ela, o Chile está em processo de atualização de seu currículo, do ensino fundamental ao ensino médio. Essa atualização deve levar de 2 a 3 anos para ser implantada.
“Atualmente, temos um currículo baseado em disciplinas com muitos objetivos de aprendizado. Na maioria das matérias, há objetivos de conhecimento, habilidades e de atitude”, relatou.
Em geral, diz ela, o foco são os objetivos de conhecimento ao invés dos objetivos de habilidades ou de atitudes. Isso está relacionado ao sistema de medição da qualidade da educação. Para a educadora, esta questão é estratégica para o sistema educacional chileno.
Como promover uma mudança de paradigma nos professores para que promovam a educação inclusiva em sala de aula?
A Universidad Diego Portales desenvolveu alguns projetos em parceria com o Ministério da Educação com este objetivo. Entre eles, o Planejamento Interdisciplinar e Diversificado, que tem como princípios fundamentais o currículo, que deve estar ao serviço da qualidade de vida dos alunos, e a colaboração entre os profissionais e com a família, essencial para a geração de um aprendizado relevante e pertinente.
“Entendemos que a construção de conhecimentos complexos pressupõe interdisciplinaridade e sinergia curricular. A divisão das disciplinas tende a desintegrar os esforços pedagógicos e a reduzir o significado do que é ensinado”, concluiu Ramos.
Foto: Karim Kahn / Sesi